Até o dia 21 deste mês, foram notificados 155 casos
notificados de Monkeypox (varíola dos macacos) em 14 países: Austrália,
Alemanha, Bélgica, Canadá, França, Estados Unidos, Espanha, Itália, Portugal,
Suécia, Suíça, Israel, Países Baixos, Reino Unido, todos autóctones e sem
histórico recente de viagem para áreas endêmicas.
A doença é causada pelo vírus da varíola dos
macacos. O nome deriva da espécie em que a doença foi inicialmente descrita em
1958. Trata-se de uma doença zoonótica viral, em que sua transmissão para
humanos pode ocorrer por meio do contato com animal ou humano infectado ou com
material corporal humano contendo o vírus.
Apesar do nome, os primatas não humanos não são
reservatórios do vírus da varíola. Embora o reservatório seja desconhecido, os
principais candidatos são pequenos roedores (p. ex., esquilos) nas florestas
tropicais da África, principalmente na África Ocidental e Central.
A doença é comumente encontrada na África Central e
Ocidental, nos locais de florestas tropicais onde vivem animais que podem
carregar o vírus. Pessoas com Monkeypox são ocasionalmente identificadas em
países fora da África Central e Ocidental, normalmente relacionados a viagens
para regiões onde a varíola dos macacos é endêmica.
Transmissão entre humanos
A transmissão entre humanos ocorre principalmente
por meio de contato pessoal com secreções respiratórias, lesões de pele de
pessoas infectadas ou objetos recentemente contaminados. Transmissão via
gotículas respiratórias usualmente requer contato mais próximo entre o paciente
infectado e outras pessoas, o que torna trabalhadores da saúde, membros da
família e outros contactantes pessoas com maior risco de contaminação. O vírus
também pode infectar as pessoas por meio de fluidos corporais.
Sintomas
Os sintomas incluem febre, dor de cabeça, dores
musculares, dores nas costas, linfonodos, calafrios e exaustão. A erupção
geralmente se desenvolve pelo rosto e depois se espalha para outras partes do
corpo, incluindo os órgãos genitais. Os casos recentemente detectados relataram
uma preponderância de lesões na área genital.
A erupção passa por diferentes estágios e pode se
parecer com varicela ou sífilis, antes de finalmente formar uma crosta, que
depois cai. A diferença na aparência da varicela ou da sífilis é a evolução
uniforme das lesões. O período de incubação é tipicamente de 6 a 16 dias, mas
pode chegar a 21 dias. Quando a crosta desaparece, a pessoa deixa de infectar
outras pessoas.
No dia 7 de maio a Agência de Segurança da Saúde do
Reino Unido (UKHSA) reportou o primeiro caso de varíola dos macacos que,
acredita-se, se tratar de um caso importado.
No dia 13 de maio, a OMS, foi notificada com mais
dois casos confirmados laboratorialmente e um caso provável, todos residentes
na mesma casa, sem histórico recente de viagem e sem contato com o caso
relatado em 7 de maio.
Outros quatro casos foram confirmados pelo UKHSA em
16 de maio também sem histórico recente de viagens para áreas endêmicas, não
tendo contato com os casos relatados no período de 7 a 14 de maio.
Vírus ataca pela 1ª vez em Portugal
Os casos, relatados na UKHSA até o dia 16 de maio,
tratam-se predominantemente de homens que mantinham relações sexuais com outros
homens. Porém, segundo o CDC, não se deve limitar as preocupações aos homens
que mantem relação sexual com outros homens. Aqueles que têm algum tipo de
contato pessoal próximo com pessoas com varíola dos macacos também podem estar
em risco de contrair a doença.
Em 18 de maio, Portugal relatou 14 casos
confirmados de varíola e mais 15 casos suspeitos. Todos os casos eram homens
jovens, moradores de Lisboa e Vale do Tejo e os casos, até agora, concentram-se
na mesma zona. Esta é a primeira vez que é detectada em Portugal infeção pelo
vírus.
O Centro Europeu de Prevenção e Controle de Doença
(ECDC) publicou no dia 19 de maio, alerta sobre vários casos de varíola dos
macacos que foram confirmados na Europa.
A autoridade de saúde da Espanha também registrou
23 casos suspeitos compatíveis com a infecção viral, todos na região de Madri,
mas ainda não há casos confirmados. Foi emitido alerta para garantir uma
resposta rápida, coordenada e oportuna.
Ainda no dia 18 de maio o Departamento de Saúde
Pública de Massachusetts (DPH) confirmou um caso de infecção pelo vírus
macaco-aranha em um homem adulto com recente viagem ao Canadá. Os testes
iniciais foram realizados pelo Laboratório Estadual de Saúde Pública na
Planície da Jamaica e os testes confirmatórios foram concluídos pelo Centros de
Controle e Prevenção de Doenças dos EUA (CDC).
O DPH está trabalhando em colaboração com o CDC, os
conselhos locais de saúde e os prestadores de cuidados de saúde para
identificar indivíduos que possam ter tido contato com o paciente enquanto ele
estava no estágio ativo da infecção. Esta abordagem de rastreamento de contato
é a mais apropriada dada a natureza e transmissão do vírus. O CDC afirma que o
caso não representa risco para a população, e o indivíduo está internado e em
boas condições. Os Estados Unidos tiveram casos anteriores a 2022, sendo um no
Texas e um em Maryland ambos 2021 e em pessoas com viagem recente à Nigéria.
Em 19 de maio o primeiro caso na Alemanha foi
detectado, sendo em um brasileiro de 26 anos que vive em Munique, capital da
Baviera. O paciente está isolado na Clínica Schwabing e apresenta sintomas
leves e bom quadro clínico geral. O CIEVS Nacional está monitorando o quadro de
saúde do brasileiro, bem como realizando alerta para os profissionais de saúde.
Também no dia 19, foram reportados 13 casos, em
Montreal, Canadá, e no dia 20 de maio, foram reportados casos na Austrália,
Estados Unidos (Nova York), Bélgica, Itália, Países Baixos, Israel, Suíça e
Alemanha.
A OMS realizou reunião de emergência, em 20 de
maio, para analisar a propagação do vírus além das áreas da África, onde a
doença é endêmica. Até 21 de maio, 14 países registraram casos suspeitos e
confirmados.
O vírus da varíola dos macacos é considerado como
tendo transmissibilidade moderada entre humanos. A transmissão entre parceiros
sexuais, devido ao contato íntimo durante o sexo com lesões cutâneas
infecciosas, parece ser o modo provável de transmissão.
Dada a frequência incomumente alta de transmissão
de humano para humano observada e a provável transmissão em indivíduos sem
histórico de viagens para áreas endêmicas, a probabilidade de propagação do
vírus por contato próximo, por exemplo, durante atividades sexuais, é
considerada alta. A probabilidade de transmissão entre indivíduos sem contato
próximo é considerada baixa.
A extensão da transmissão comunitária é atualmente
desconhecida. No entanto, testes direcionados de indivíduos com tais
manifestações clínicas estão começando nos países afetados. A manifestação
clínica da varíola dos macacos é geralmente leve. O clado da África Ocidental,
que até agora foi detectado nos casos relatados na Europa, tem uma taxa de
letalidade de 3,6% em estudos realizados em países africanos. A mortalidade é
maior entre crianças e adultos jovens, e indivíduos imunocomprometidos que
estão especialmente em risco em adquirir a forma grave da doença. A maioria das
pessoas se recupera em semanas.
OMS recomenda atenção aos profissionais de saúde
Segundo a OMS, os profissionais de saúde devem
estar atentos ao aparecimento de pacientes que apresentam erupção cutânea
atípica que progride em estágios sequenciais de máculas, pápulas, vesículas,
pústulas, crostas e está frequentemente associada a febre, linfadenopatia e
mialgia. Embora na Europa a maioria dos casos tenha sido detectado em clínicas,
estes podem ocorrer em uma variedade de serviços de saúde e comunidade,
incluindo medicina da família, pediatria, dermatologia e serviços de urologia.
Os casos suspeitos devem ser imediatamente
notificados às autoridades de saúde pública correspondentes, para que sejam
implementadas ações de saúde pública oportunas. A vigilância entre os
profissionais de saúde potencialmente expostos aos pacientes também é
primordial.
Para facilitar as ações de vigilância, a OMS propõe
a seguinte definição de caso para países não-endêmicos:
Caso suspeito
Pessoa de qualquer idade, em país não endêmico para
varíola dos macacos, que apresente erupção cutânea aguda inexplicável e que
apresente um ou mais dos seguintes sinais ou sintomas, desde 15 de março de
2022: dor nas costas, astenia, cefaleia, início súbito de febre (>38,5 ºC),
linfadenopatia e para os quais foram excluídas as seguintes causas comuns de
erupção cutânea aguda: varicela, herpes zoster, sarampo, zika, dengue,
Chikungunya, herpes simples, infecções bacterianas da pele, infecção gonocócica
disseminada, sífilis primária ou secundária, cancroide, linfogranuloma venéreo,
granuloma inguinal, molusco contagioso (poxvirus), reação alérgica (como a
plantas); e qualquer outra causa comum localmente relevante de erupção
vesicular ou papular.
Caso provável
Pessoa que atende à definição de caso suspeito E Um
ou mais dos seguintes critérios: tem um vínculo epidemiológico (exposição
próxima sem proteção respiratória; contato físico direto, incluindo contato
sexual; ou contato com materiais contaminados, como roupas ou roupas de cama)
com um caso provável ou confirmado de varíola símia nos 21 dias anteriores ao
início dos sintomas e/ou histórico de viagem para um país endêmico de varíola
símia nos 21 dias anteriores ao início dos sintomas.
Caso confirmado
Pessoa que atende à definição de caso suspeito ou
provável E é confirmado laboratorialmente para o vírus da varíola dos macacos
por teste molecular (PCR em tempo real) ou outro, como sequenciamento (se
disponível).
Os casos suspeitos podem apresentar sintomas
precoces semelhantes à gripe e progredir para lesões que podem começar em um
local do corpo e se espalhar para outras partes. A doença pode ser clinicamente
confundida com uma infecção sexualmente transmissível como sífilis ou herpes,
ou com o vírus varicela zoster.
Uma vez havendo contato com um caso suspeito, o
tempo para início da doença varia entre 5-21 dias (mais provavelmente entre
7-14 dias). Os sintomas iniciais são de uma infecção viral sistêmica
inespecífica (febre, mialgia, lombalgia, calafrios e prostração) que evolui com
lesões epiteliais, especialmente pele.
As lesões se iniciam 1 a 3 dias após o início da febre
e começam com uma erupção cutânea que comumente se inicia na face e dissemina
pelo corpo. As lesões cutâneas evoluem para lesões vesiculosas que se
escarificam, assemelhando, portanto, a quadros de varicela (catapora). As
lesões são em geral múltiplas e se curam entre 2 e 4 semanas.
Chama atenção a presença de linfadenopatia
que pode ser extensa e precoce. De forma geral o prognóstico é bom e o cuidado
geral e paliativo das lesões é o tratamento para os casos não complicados. As
lesões e o escarificado das lesões são contagiosas e o vírus é bastante
resistente na natureza, sugerindo cuidados extras com roupas de vestuário, cama
e banho de um indivíduo infectado.
Nesse momento, casos potenciais de varíola dos
macacos devem ser suspeitados em indivíduos retornando de viagem do exterior,
com lesões de pele características (vesículo-pustulosas múltiplas que
escarificam) e linfadenopatia, sem história de contato com outros indivíduos
que tiveram varicela (catapora).
A confirmação diagnóstica se dá por testes moleculares
(RT-PCR) que detectam sequências específicas do vírus em amostras do paciente.
Deve haver cuidado ao se obter essas amostras e as mesmas transportadas em
recipiente lacrado e desinfectado na parte externa, devido ao potencial
infeccioso dos mesmos. Neste sentido, as amostras devem ser enviadas ao
Laboratório Central de Saúde Pública (LACEN) de referência da localidade.
Além do diagnóstico diferencial com varicela
(catapora), as lesões podem se assemelhar nas fases iniciais com as lesões
secundárias de sífilis, mas a evolução é diferente com presença de
linfadenopatia. No Brasil, ocorre a vaccinia bovina, causada pela “vaccínia
vírus”, e cujos sintomas e lesões na pele são muito semelhantes ao quadro
descrito para a varíola dos macacos. A vaccinia bovina, portanto, é um
diagnóstico a ser diferenciado no contexto epidemiológico apropriado. As lesões
de herpes (labial, genital ou zoster) se assemelham àquelas da varíola dos
macacos e também devem ser consideradas no diagnóstico diferencial.
Sem tratamento específico
Segundo a OMS, não existem tratamentos específicos
para a infecção pelo vírus da varíola dos macacos. Os sintomas da varíola
geralmente desaparecem espontaneamente. É importante cuidar da erupção
deixando-a secar ou cobrindo com um curativo úmido para proteger a área, se
necessário. Deve-se evitar tocar em feridas na boca ou nos olhos.
A vacinação contra a varíola demonstrou ajudar a
prevenir ou atenuar a doença da varíola dos macacos, com uma eficácia de 85%.
As pessoas vacinadas contra a varíola demonstraram, no passado, ter proteção
contra a varíola dos macacos. Porém, deve-se notar que a vacinação contra a
varíola terminou em 1980, após a doença ter sido declarada erradicada no mundo.
As vacinas contra a varíola não estão mais disponíveis no mercado.
Existe uma vacina desenvolvida para a varíola dos
macacos (MVA-BN), conhecida como Imvamune, Imvanex ou Jynneos, que foi aprovada
em 2019, mas ainda não está amplamente disponível. A OMS está coordenando com o
fabricante para melhorar o acesso a esta vacina. Como a infecção por varíola
dos macacos é rara, a vacinação universal não é recomendada.
As informações estão no documento Comunicação
de Risco 06 – Monkeypox_22-05-22_FINAL, elaborado pelo Centro de
Informações Estratégicas de Vigilância em Saúde – CIEVS Nacional; Coordenação
Geral de Emergências em Saúde Pública – CGEMSP; Departamento de Saúde
Ambiental, do Trabalhador e Vigilância das Emergências em Saúde Pública –
DSASTE; e Secretaria de Vigilância em Saúde – SVS, todos órgãos do Ministério
da Saúde – MS.
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