Imagem de células cancerígenas. Instituto Nacional do Câncer/Divulgação (Foto: )
Brasília – Um estudo com
apenas 18 pacientes acometidos com câncer colorretal que usaram o mesmo
medicamento, embora não seja possível considerá-los curados foi considerado
promissor; eles não tiveram efeitos colaterais, nem precisaram de outros
tratamentos. A ação de uma nova droga desenvolvida por uma indústria
farmacêutica, remediou os sintomas da doença.
Foi um estudo pequeno, com apenas 18 pacientes com
câncer colorretal, e cada um tomou o mesmo medicamento. Mas os resultados foram
surpreendentes. O câncer desapareceu em cada um dos pacientes — indetectável
pelo exame físico, endoscopia, tomografia por emissão de pósitrons ou PET
scans; ou ressonâncias magnéticas.
De acordo com Luis Diaz Jr., do Memorial Sloan
Kettering Cancer Center, autor de um artigo que descreve os resultados,
patrocinado pela empresa farmacêutica GlaxoSmithKline, disse que não conhecia
nenhum outro estudo em que um tratamento tivesse uma remissão completa do
câncer em todos os pacientes. “Acredito que esta é a primeira vez que isso
acontece na história do câncer”, disse Diaz.
Alan Venook, especialista em câncer da Universidade
da Califórnia, que não esteve envolvido com o estudo, também acha que os
resultados são inéditos.
Os pacientes com câncer colorretal enfrentaram
tratamentos como quimioterapia, radioterapia e, muito provavelmente, cirurgias
que poderiam resultar em disfunção intestinal, urinária e sexual. Alguns
precisariam de bolsas de colostomia. Eles entraram no estudo pensando que,
quando terminasse, teriam que passar por esses procedimentos porque ninguém
esperava realmente que seus tumores desaparecessem. Mas eles tiveram uma
surpresa: nenhum tratamento adicional foi necessário.
“Foram muitas lágrimas de felicidade”, disse Andrea
Cercek, oncologista do Memorial Sloan Kettering Cancer Center e co-autora do
artigo, apresentado na reunião anual da Sociedade Americana de Oncologia
Clínica.
Sascha Roth, primeira paciente de câncer colorretal
do estudo Foto: Shuran Huang
Outra surpresa, acrescentou Venook, foi que nenhum
dos pacientes teve complicações clinicamente significativas. Em média, 1 em
cada 5 pacientes tem algum tipo de reação adversa a medicamentos como o que
tomaram, o dostarlimab, conhecido como inibidor de checkpoint. A
medicação foi dada a cada três semanas durante seis meses e custou cerca de US$
11.000 por dose. Ele “desmascara” células cancerígenas, permitindo que o
sistema imunológico as identifique e as destrua.
Embora a maioria das reações adversas seja
facilmente controlada, cerca de 3% a 5% dos pacientes que tomam esse tipo de
medicamento apresentam complicações mais graves que, em alguns casos, resultam
em fraqueza muscular e dificuldade para engolir e mastigar. A ausência de
efeitos colaterais significativos, disse Venook, significa que “ou eles não
trataram pacientes suficientes ou, de alguma forma, esses cânceres são
simplesmente diferentes”.
Hanna K. Sanoff do Lineberger Comprehensive Cancer
Center da Universidade da Carolina do Norte, que também não esteve envolvida no
estudo, o considera “pequeno, mas atraente”. Ela acrescentou, porém, que não
está claro se os pacientes estão curados. “Muito pouco se sabe sobre a duração
do tempo necessário para descobrir se uma resposta clínica completa ao
dostarlimab equivale à cura”, disse.
Já para Kimmie Ng, especialista em câncer da Escola
de Medicina de Harvard, afirmou que, embora os resultados fossem “notáveis” e
“sem precedentes”, eles precisariam ser replicados.
Origem do estudo
A inspiração para o estudo veio de um ensaio
clínico que Diaz liderou em 2017, financiado pela farmacêutica Merck,
envolvendo 86 pessoas com metástase (câncer que se originou em várias partes de
seus corpos). Todos os cânceres compartilhavam uma mutação genética que impedia
as células de reparar danos no DNA. Essas mutações ocorrem em 4% de todos os
pacientes com câncer.Os pacientes nesse estudo tomaram um inibidor de checkpoint da
Merck, pembrolizumab, por até dois anos. Os tumores encolheram ou estabilizaram
em cerca de um terço em metade dos pacientes e eles viveram mais. Os tumores
desapareceram em 10% dos participantes do estudo. Isso levou Cercek e Diaz a
perguntar: o que aconteceria se a droga fosse usada muito mais cedo no curso da
doença, antes de o câncer ter a chance de se espalhar?Eles estabeleceram um estudo
de pacientes com câncer colorretal localmente avançado — tumores que se
espalharam no reto e às vezes para os gânglios linfáticos, mas não para outros
órgãos. Cercek havia notado que a quimioterapia não estava ajudando uma parte
dos pacientes que tinham as mesmas mutações que afetaram os participantes do
estudo de 2017. Em vez de encolher durante o tratamento, seus tumores retais
cresceram. Talvez, Cercek e Diaz raciocinaram, a imunoterapia com um inibidor
de checkpoint permitiria a esses pacientes evitar
quimioterapia, radioterapia e cirurgia
Diaz começou a perguntar às empresas que fabricavam
inibidores de checkpoint se patrocinariam um pequeno estudo. A maioria recusou,
dizendo que o teste era muito arriscado. Ele e Cercek queriam dar a droga a
pacientes que poderiam ser curados com tratamentos padrão. O que os
pesquisadores estavam propondo poderia acabar permitindo que os cânceres
crescessem além do ponto em que podem ser curados. “É muito difícil alterar o
padrão de tratamento”, disse Diaz. “Todos querem fazer cirurgia.”
Finalmente, uma pequena empresa de biotecnologia, a
Tesaro – comprada pela GlaxoSmithKline –, concordou em patrocinar o estudo.
Seu primeiro paciente foi Sascha Roth, então com 38
anos. Ela notou um sangramento retal pela primeira vez em 2018, e estava
programada para começar a quimioterapia na Universidade de Georgetown, mas um
amigo insistiu que ela visse primeiro o Dr. Paty, no Memorial Sloan Kettering.
Paty disse a ela que estava quase certo que seu câncer incluía a mutação que tornava
improvável que respondesse bem à quimioterapia. Descobriu-se, porém, que Roth
era elegível para entrar no ensaio clínico. Se ela tivesse começado a
quimioterapia, ela não seria.
Não esperando uma resposta completa ao dostarlimab,
Roth havia planejado se mudar para Nova York para radioterapia, quimioterapia e
possivelmente cirurgia após o término do teste. Para preservar sua fertilidade
após o tratamento de radiação esperado, ela teve seus ovários removidos e
colocados de volta sob as costelas.
Após o julgamento, Cercek deu-lhe a notícia: “Não
há absolutamente nenhum câncer”. Ela não precisou de mais nenhum tratamento.
“Eu disse à minha família e eles não acreditaram em mim”, conta Roth. Mas, dois
anos depois, ela ainda não tem nenhum traço de câncer.
Inibidores de checkpoint e imunoterapia
Inibidores de checkpoint: A
imunoterapia já é uma realidade
O surgimento da imunoterapia é considerado uma das
inovações mais animadoras para o tratamento do câncer. Através da imunoterapia,
tem sido possível conseguir a remissão completa e durável de diversos tipos de
câncer. Além dessa importante vantagem, a imunoterapia traz também menos
efeitos colaterais que os tratamentos convencionais contra o câncer. Isso se dá
por conta do mecanismo de ação que faz com que pacientes resistentes a
quimioterapias clássicas e/ou radioterapia também possam ser tratados.
Com funciona a imunoterapia?
O sistema imune é composto por diversos tipos
celulares que protegem o nosso organismo de elementos estranhos. Essas substâncias
ativam nossas defesas para serem combatidas e eliminadas. Em muitos casos,
células do câncer conseguem escapar desse sistema de defesa. A boa notícia é
que recentemente, grandes progressos foram feitos pela ciência para se entender
como o câncer consegue driblar essas defesas. Dessa forma estão sendo capazes
de desenvolver alternativas terapêuticas que permitem ao sistema imune do
paciente, reconhecer, combater e até eliminar essas células.
Quais são as estratégias terapêuticas?
Atualmente, a medicina trabalha com terapias que
envolvem citocinas, vacinas contra o câncer e de forma mais importante, os
anticorpos monoclonais identificados como inibidores de checkpoint. Os
inibidores de checkpoint têm sido apontados como extremamente promissores para
a terapia contra o câncer. Eles são divididos em 3 grupos: Os inibidores de
PD-1, inibidores do ligante de PD-1 (PD-L1) e os inibidores de antígeno 4
associados a linfócito T – citotóxico.
Eis alguns exemplos de fármacos imunoterápicos:
Inibidores de PD-1 incluem:
Pembrolizumab.
Nivolumab.
Eles têm se mostrado promissores e eficientes no
tratamento de diferentes tipos de câncer. Isso inclui câncer de pulmão de não
pequenas células, rim, bexiga, cabeça e pescoço, e linfoma de Hodgkin.
Inibidores de PD-L1 incluem:
Atezolizumab.
Avelumab.
Durvalumab.
Por fim, já existe o ipilimumab, um anticorpo
monoclonal que se liga ao CTLA-4 e o impede de funcionar. Isso leva a resposta
imunológica do corpo contra as células cancerígenas.
Os cientistas sabem que muitos estudos ainda
precisam ser desenvolvidos, mas o caminho da luta contra o câncer está no
caminho certo para tornar a imunoterapia cada vez mais presente e eficiente no
tratamento contra a mais letal doença da humanidade.
Fonte: Sociedade
Americana de Oncologia Clínica
Reportagem: Val-André
Mutran – Correspondente do Blog do Zé Dudu em
Brasília.
ZE DUDU